quinta-feira, 22 de abril de 2010

língua de poeta




trevas. as janelas de negro

medo. medo de ter medo
medo de ser sombra de ser luz
medo de ser trevo e erva seca
de ser néctar ser veneno

medo.medo -

não há coragem no que digo –

oscilo entre a uva e a vindima
cálice de mosto e vinho de aguardente
perdendo o equilíbrio
como a gravidade lunar num suspensório antigo
elástico, repetido
como um barco sem remos, sem destino
no ritmo de uma onda que se cria.

medo. medo. tenho tanto medo-

uma tesoura aberta sobre um fio
e um grito rouco. um eco distante

boca braço abraço
que me circunda e quebra
o refúgio mais certo de ser náufrago -

ilha. ilha de sal.

medo. medo de não ser
o retrato e o pó
as cartas e o nó
de um laço de palavras. palavras escritas
das que se guardam num relógio de pulso;
uma. uma. uma. uma em cada batida:

ritmo síncope de uma gota a abrir círculos como saída-

o medo. o medo. o medo
de ser lágrima
e ser língua de poeta -

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