sábado, 5 de setembro de 2009

espaços quentinhos no Porto

Caros colegas,

serve este post para vos falar de dois espaços muito simpáticos na cidade onde podem assistir a sessões de poesia:

- O Gato Vadio, na rua do Rosário nº 281;

- O renovado Labirintho, na rua Nossa Senhora de Fátima nº 334, que todas as quintas feiras dedica a noite à poesia. Em cada sessão os livros dos poetas lidos sofrem um desconto de 20%.


Amanhã, dia 6 de Setembro, vou a uma sessão no Gato, às 22h. Apareçam! Era um prazer rever-nos. Abraço

Disciplina


Georges Braque "Porto na Normandia" 1909

O trabalho começa ao romper do dia. Mas nós começamos,
um pouco antes do romper do dia, a reconhecer-nos
nas pessoas que passam na rua. Ao descobrir os raros
transeuntes, cada um sabe que está sozinho
e que tem sono — perdido no seu próprio sonho,
cada um sabe no entanto que com o dia abrirá os olhos.
Quando a manhã chega, encontra-nos estupefactos
a fixar o trabalho que agora começa.
Mas já não estamos sozinhos e ninguém mais tem sono
e pensamos com calma os pensamentos do dia
até que o sorriso vem. Com o regresso do sol
estamos todos convencidos. Mas às vezes um pensamento
menos claro — um esgar — surpreende-nos inesperadamente
e voltamos a olhar para tudo como antes do amanhecer.
A cidade clara assiste aos trabalhos e aos esgares.
Nada pode turvar a manhã. Tudo pode
acontecer e basta levantar a cabeça
do trabalho e olhar. Rapazes que se escaparam
e que ainda não fazem nada passam na rua
e alguns até correm. As árvores das avenidas
dão muita sombra e só falta a erva
entre as casas que assistem imóveis. São tantos
os que à beira-rio se despem ao sol.
A cidade permite-nos levantar a cabeça
para pensar estas coisas, e sabe bem que em seguida a baixamos.

Cesare Pavese, in 'Trabalhar Cansa'
Tradução de Carlos Leite