sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Em Outubro chove


Retirado de gobysplace.files na internet



justiça ou injustiça nada tem a ver com isto

as chuvas de espadas nas batalhas do milénio
os elmos, os gritos dos cavalos
os rostos negros dos soldados
as misturas dos lugares, dos que caem
dos que correm, dos que fogem
dos que olham os últimos risos do prado
no voo seco e duro dos pássaros

não
justiça ou injustiça nada tem a ver com isto

nem um daqueles que portam as bandeiras
nem um daqueles de imagens paradas nas pálpebras
nem um daqueles é senhor ou mendigo
de um limbo onde nasce a razão
a luz clara que apaga o universo.

pó e em pó, somos o pó informe sem prova
sem julgamento de ordem ou desordem
embora por vezes nos dias singulares
num relâmpago uma voz de trovão rasga o céu
abre a submersa claridade a diagonal origem
de um arco-íris.

em Outubro as águas primeiras são martelos
e as roupas molhadas togas
juízes de nós sem testemunhas do mal.

de passos curtos concluo que sou um pássaro
numa gaiola oscilante e fraca
observo os bigodes de um gato que inclinado
no equilíbrio de duas patas
segura as pedras molhadas.

em Outubro chove
e sem juiz sem juízo concluo
que justiça ou injustiça nada tem a ver com isto
em Outubro chove