domingo, 24 de janeiro de 2010

pensando

faz-me pensar
não somos nós mais que muitos?
não somos nós seres únicos? marcas digitais únicas?
reduzidos a números, a estatísticas, a tabelas
decapitados
sem pinga de sangue

faz-me pensar
naquelas órbitas, paradas, sequer névoa
de quem já nada pede, nada quer,
ausente, irreal, na plateia de um filme de cinema
para maiores de nascidos

faz-me pensar
em cada rosto, cada ruga
um contar de histórias sem fim
desconhecidas
em cada perda, um elo se quebra
um nunca mais definitivo

faz-me pensar
todas estas vidas diminuídas em multidão
que nos entram pela casa adentro
sem sequer um "posso?"
e mantens igual o acto maquinal
de levar a comida à boca já tão cheia
de olhos postos em outras tão cheias de
nada
soltas tua culpa com um "coitados!" ocasional
e segues a tua vida
e todos seguem as suas vidas
e o mundo gira e gira e gira

e tu? onde estavas tu?
quando a terra decidiu mostrar as entranhas!
adormeceste em serviço?
esqueceste de proteger os que em ti acreditam?
os poupados agradecem-te!
e os outros? os engolidos pelo cinzento?
esses já nada dizem, só silêncio

faz-me pensar
afinal também tu és
silêncio

Clara Oliveira