sábado, 6 de agosto de 2011

sempre que me dizem o teu nome


Isabelle Adjiani por Heléne Renault

sempre que me dizem o teu nome desço o ramo do pinheiro
como agulha flutuante, atingindo o solo sem estrondo
vestido de verde, recuando no tempo
o tempo de um peso leve sobre as costas
a tenda e um sorriso aberto
de amêndoa
sempre que me dizem o teu nome

sempre que me dizem o teu nome bato com os pés no chão
levanto a poeira e sonho ser cavalo branco, de crinas ao vento
procurando a guarida dos bosques, o ruído dos ribeiros
sem sela, de pêlo nu, segurando a força das tuas pernas
escutando a sombra dos teus cabelos, ombros, costelas
olhos grandes, pestanas ávidas, lábios molhados;
e os dedos longos rodeando o topo da cabeça
a estrela, o arfar constante, o insossego da cratera
o permanente desafio;
um acto coragem, o superlativo favorito, a revolução
sempre que me dizem o teu nome

sempre que dizem o teu nome soam cordas de harpa
risos de violino e uma dança nas mãos de Maisky
a clássica filosofia de um concerto nas ondas absortas de uma orquestra
unindo as bocas das notas, únicas, breves, alinhadas nos sinais da pauta
e perecendo no uníssono que se prolonga no pico das palmas
nos corpos erguidos de molas; e as cordas que se afastam
deixando a permanência de um silvo dentro dos ouvidos
os olhos luminosos, gritos de gaivotas sobre os remos
como um barco que se afasta e salga as ondas nas batidas do mar
sempre que me dizem o teu nome

e sempre que me dizem o teu nome há um arco-íris
um girassol iluminado, três mil jasmins e cinquenta nardos
um quarto solitário feito em pedaços, uma lua esquecida
uma concertina invisível rodopiando árias
a permeabilidade do metal, tornando-se frágil, quebrável
e um silêncio, uma hipnose, um transe tão agudo
que ninguém se apercebe que pode cair um relâmpago
um prédio, um pânico ou acidente, um crime, um incêndio
que, se me vissem por dentro

o teu rosto descansa no meu ombro

no éter dos poemas
sempre que me dizem o teu nome


José Ferreira 6 de Agosto 2011