domingo, 25 de abril de 2010

Xilofone

Vou desfazendo estrelas com as mãos
Enquanto partes

d-o-r
deposito o pó em vasos
em embriões ingénuos de passado

um testamento de memórias na pele
que a água não apaga
não lava

nem as lágrimas são estrelas
— a ausência é um planeta isolado

distante o sol deseja não ser nada
só luz
perder o corpo

vou desfazendo estrelas com as mãos
enquanto partes

p-ó
nascem flores do pó
com pele de seda e água

a matéria presa
—surda
só nada em mim
quando partes

só estrelas
só sonho
s-ó

liberdade


Salvador Dali



álvaro escrevo-te hoje para agradecer
aquela carta de caligrafia tão delicada.
não se usa escrever já asssim as frases.
cortam-se as palavras nas pressas de internet.

apreciei que dissesses que me amavas
e que levasses cinquenta linhas e dez parágrafos
até que tomasse a devida nota que não sonhei
não foi por acaso aquela mão no ombro
e o beijo na face deslocado quase no canto
no canto dos lábios.

álvaro chega por volta das sete, sete e um quarto
e traz a espingarda - como bem sabes é metáfora
que gosto de todos os animais até da víbora
e não gosto de caça. matas-me e eu mato-te
quando chegares.

álvaro traz a mala verde e três mudas de roupa branca
t-shirts calças de ganga as botas fortes de borracha
dois chapéus de palha e uma enxada.ah! e não te esqueças
álvaro três diários.

álvaro vamos para o campo
só voltamos daqui a dois anos -

maria -

Roll bus roll

O autocarro é estéril
A noite calma e ébria

O portátil é o teu gira-discos

O meu amor é portátil
Descartável
Reciclável

O teu amor é um autocarro

O teu amor é o gira-discos
Portátil
Ébrio

O amor é o infinito _ reciclável

O amor é uma calma ébria
Uma noite portátil
Um gira-discos descartável

O meu amor é a tua música.