terça-feira, 21 de julho de 2009

Asas de luz


Chagall "The flying carriage"-1913




Tudo tem significado nada é por acaso:
a penumbra, a claridade
a inclinação verde de uma sebe
um vestido de seda, a melopeia
de uma voz extensa, graciosa
o nariz de um palhaço no meio de um quadro
redondo e vermelho, sem lábios de riso
quedo como se só do outro lado: os ruídos
entre madeixas de pinho, os dedos de assobio
os dentes brancos das gargalhadas.

A bandeira do Japão será uma piada?
Um antigo chapéu colhido da terra
no mais negro travo do veneno?

Serão divinas as estrelas de Armstrong
nos altos saltos dos planetas?

E quanto a Marte ( Deus das contínuas guerras
das imagens podres ) de que cor os cabelos
os grandes olhos, o "WellRock" dos joelhos?

E aos poetas quem os fez de sonhos imateriais
de abismos, de fronteiras, recônditos de ser
essências de nuvens em quedas de chuva
personagens no teatro das palavras que caem
como pingas nos pequenos bagos das amoras
escuras e doces: convite perigoso de silvas?

Não são de acaso, sem significados as palavras
e não são dos poetas, não são suas. São os frutos
de sábias pulgas que pululam as cabeças como ruas
soltando as gotas vermelhas dos poemas; cometas
estrelas brilhantes num cálice de pratas;
o sentir perto dos versos no conforto das almas
que se abrem de caminhos e asas de luz: amarelas.