
fotografia retirada da internet
retrato real de uma cidade matinal
uma fábrica de molduras de vão de escada
alguns minutos de intervalo.
passa um gato pardo de orelhas deitadas
esconde-se rápido por debaixo do Maseratti.
dez operárias de avental branco e ar de enfado.
uma fuma trava e lança o fumo como um traço
enrolado em nicotina de marca espanhola
diz para a colega: tem força é mais barato.
uma treina os dedos sobre a estrela do carro
diz que se fosse dela saía e ía à praia
ver o mar sentir a areia.
sete caladas em contas de supermercado
nos filhos sózinhos em casa
na ida para casa dos avós que recusaram
de olhos pregados nos virtuais teclados
cheios de erros nas palavras.
a última sentada na penúltima escada
de um prédio de cinco andares.
mármore de Angola de boa qualidade
negro como o cabelo que pousava
no avental branco e a mão num copo grande
iogurte sabor de manga.
rodava a colher como se fosse um volante
liquidificava e tornava fluido
engolia no prazer e esticava a língua
lenta e presa na leitura da revista.
explodiu em voz de soprano causou pânico
o gato fugiu como um lince sobre o muro
escondeu-se num jardim.
alguém tropeça na esquina do passeio
caem os óculos
as letras ficaram mais pequenas.
parecia falta de futebol americano
- já viram já viram aqui na Maria -
juntaram-se como se tivessem ganho a lotaria
em transe em transe de ritual religioso
e riram riram de uma alegria espontânea.
esqueceram o resto-