quarta-feira, 14 de março de 2012

Começávamos o dia por baixo - um poema de Catarina Nunes Almeida


Henri Matisse

Começávamos o dia por baixo
pelo tempo da pedra. A escarpa muscular
onde ia gastando os teus sapatos.
Manhãs compridas que chegavam ao mar.
Trazíamos as letras inclinadas trazíamos
na ponta da língua o nome dos naufrágios
e estávamos à mesa como um corpo de baile.
Uma subsistência sonora era esse
o estado da arte: éramos as claves do sul
de lábios estendidos à medida das máscaras.
Eu ia de rastilho, de árvore acesa. Ia iluminando a mão
com que batias no fundo. Traçava as águas
juntava as pernas para as covas do teu dente.
Passavam orlas e orlas e nós naquela descoberta
naquela terra toda à vista brincando ao verão
aos redemoinhos na chávena.

Catarina Nunes Almeida lido aqui