para os afortunados que anteontem desfrutaram do privilégio de assistir ‘in loco’ aos efeitos embaraçosos de um inesperado apagão, foi um prazer estar convosco e contamos com a vossa presença hoje, no mesmo local e à mesma hora, para partilhar da magnífica Colecção das Artes Cénicas. para aqueles a quem a terça-feira não permitiu uma visita ao Arquivo Distrital do Porto, ouçam a voz do destino e venham aproveitar esta segunda oportunidade de conhecer a colecção. uns e outros podem espreitar aqui o teaser disponível no youtube, e mais informações na página do evento ou do Arquivo Distrital do Porto no facebook.
Programas, poetas, sonhos de ópio, pastores pipilando, e as guilhotinas, e o sábat das bruxas ao som do Dies Irae, comédia melancólica e sarcástica de romantismo sentimental e crítico desesperadamente triste de si mesmo, na solidão do espírito perdido num mundo burguês sem fantasia, sem mais maravilhoso que o da infâmia, sem mais espanto que o da hipocrisia. Tudo isto com bem pouca reserva, bastante vulgaridade, muito efeito fácil, e um colorido por vezes novo rico como os cristais e as pratas dos barões banqueiros. Mas é música, violentamente música. Agressivamente música. Os ritmos de cadência, colorido, timbres, estilos, tons - é tudo música. Da solidão romântica imensamente pública - mas solidão. Da amargura romântica tremendamente amena - mas uma amargura. Da raiva de não ser o mundo uma obra de arte, um indivíduo, a glória, a liberdade. Música pungente, irónica, raivosa, ainda saudosa das doçuras clássicas com deuses imortais (de pedra branca). Se não sentimos isto, porque a grosseria cresceu à escala cósmica, nenhuma culpa acaso cabe a tais visões sonoras, em que a tristeza sabe imaginar-se tão puramente um canto de oboé, com percussões pontuando o mundo a que assistimos, ao som dos arcos e metais: grandeza caricata deste inferno amável (cheio de róseas profundezas - e assassinos).