quinta-feira, 7 de julho de 2011

Partes de um poema de Keats - Ode a um Rouxinol


Édouard Boubat

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Como eu queria partir para longe, voar para ti
não sobre o carro de Baco e os seus leopardos,
mas com as asas invisíveis da poesia
embora, vagaroso, o pensamento ainda hesite e se demore.
Assim apareço, subitamente, ao teu lado! A noite está calma
e, como uma rainha, a lua talvez permaneça no seu trono
cercada por todas as suas fadas, as estrelas;
mas aqui, onde fiquei, nenhuma luz pode brilhar
a não ser a que chega pelo céu com a brisa
através das sombras verdes e dos sinuosos caminhos
cobertos pelo musgo.

Não posso reconhecer as flores debaixo dos meus pés,
nem que suave incenso flutua sobre os ramos,
mas, pela noite perfumada, adivinho cada aroma
que este mês propício veio entregar aos bosques,
à relva, aos frutos das árvores silvestres,
ao espinheiro branco e à rosa brava dos prados,
às últimas violetas escondidas por entre as folhas
e à filha primogénita de Maio, a rosa almiscarada
e entreaberta, cheia de um vinho orvalhado,
asilo, nas tardes de Verão, dos insectos rumorosos.

.....

Não nasceste para morrer, tu, ave imortal!
Nenhuma geração impaciente pode apagar o teu vestígio,
e o canto que escuto nesta noite fugitiva
também foi ouvido, outrora, por reis e aldeãos;
talvez esta seja a mesma harmonia que atravessou
o espírito triste de Ruth, quando recordava o seu lar
e chorava diante das searas dum país estrangeiro;
a mesma que veio encantar tantas vezes as janelas
mágicas que se abriram sobre a espuma
dum mar ameaçador, em lendárias terras esquecidas.

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Jonh Keats "Poesia Romântica Inglesa" (Byron, Shelley, Keats) Trad. FFernando Guimarães, Relógio D'água, 1992