segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
a lua no chão
Billy Brandt
seja assim a lua
escondida no manto escuro.
nada que não previsto antes
pela natureza, pelo destino,
por um deus desconhecido -
às noites sucedem claridades
aos dias as fervuras de veludo
e tudo pode ser sígnico no imediato
como o branco ser branco para que o preto magoe.
um Eco dizia que o homem é um animal simbólico
e assim sou, como as folhas de Outono ou como as abelhas
no pólen da primavera, sempre azul,
por vezes melancólico como as teclas de um piano
estendendo a cabeleira, fechando os olhos, interiormente,
ou então um Papageno soltando alegrias
desnudo e sensível, dirigível a Pamina
como um barco que descobre o rumo -
quando vestia calções e couros cor de mel nas sandálias largas
percorria caminhos de terra, respirava o pó ou os aromas molhados
afagava o pêlo dos animais e pensava no sol de uma outra forma.
como bem determinaste o coração cresceu,
guarda portas fechadas e ainda mais espaço;
uma sala onde há livros espalhados,
uma montanha mágica
e um barco de Ulisses sempre em viagem -
não sei se é fraqueza ou excesso de querer essa força que dispara.
as setas enganam, duplas, simultâneas, atingindo os dois lados.
e não é uma questão de perdoar, é entendimento de lugares;
a dinâmica, não o imobilismo das faces, não a falta de intencionalidade,
é tudo ao contrário.
se estiveres de costas para o céu
e sentires o ruído de asas metálicas, poderás dizer: é um avião
e poderás sentir uma imensa vontade de voar, de visitar Londres ou Paris
abrir uma janela no boulevard, ou perto do British Museum,
abrir os dedos de uma mão e juntá-los como lava numa outra mão
e podes abrir um imenso sorriso, perder sete vezes a gravidade
mesmo sem sair do chão.
podes sorrir, sentir o afecto, a pertença
a realização, um sonho, de costas para a cidade no cimo das costas do céu
e pode ser bom -
não é determinismo, nem sequer ironia fraca ou cepticismo permanente,
é o respirar sempre, habitar as metades de tudo procurando a melhor direcção
porque há uma estrela de norte e um brilho de oriente.
não pretendo desvendar todos os véus subtis, o indelével que seduz.
há margens, estradas de poeiras, as vias lácteas perto da lua.
mas prossigo.
essa é a grande música que cresce dentro dos ouvidos -
josé ferreira 5 Dezembro 2011
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