sexta-feira, 7 de setembro de 2012


Em cuidado de vós
não vos debruceis nessa varanda
que é pouco segura a cascata de ferro 
a tremer até ao Douro

olhai bem este sítios queridos
vede-os com derradeiro olhar
em copas de tormento tomai
o que de chão vos restar
que nesta rua não há baloiço
que não vos lance em alto mar

cinco janelas, cinco cavaleiros 
a cavalo em gaivotas que relincham
levam esta carta à minha infância 
e todos espreitam na rua
o candor que nela vai bordado:
o teu olhar de baloiço à janela
que outrora embalava a cidade ao meu lado

aqui regresso 
em vela caída que chama
a fruta demasiado doce à mercearia
e ao rio a verdade que resvala na rua
segura em aperto de mãos 
entre bons dias e passadas suspensas à noite
como o violino de uma criança
que vencesse o carrilhão dos Clérigos
ou o Outono que abandonaste
debruçado em mim até ao mar

em cuidado de vós
não quereis ser desta rua sem o serdes
que não há verdes em equilíbrio
que aqui não tombem 
em murmúrio de nevoeiro quando há luar

por aqui passai de um verso a outro
como um soldado de chumbo
sem hesitar, cantai aos cavaleiros
e bailai com as gaivotas sobre o gelo
mas não pouseis, visitante, com elas
que asas não vos chegarão para levantar

a mim deixai-me quieta
que o tempo agora é este:
uma rua inclinada para as tuas mãos
        



                                                                                               (Virtudes)