Que farei quando tudo arde?
Sá de Miranda
Sá de Miranda
Antes era a fome
Os dedos secos, nodosos e escuros a remexer
A terra
Não havia água como para os marinheiros
Não havia ar como para os pensadores
Rostos caídos, olhares apagados, fronteiras cerradas
A noite durava um longo dia
E uma cantiga baixinho
Para consolar
Da terra brotavam coisas
Laranjas, pipas de vinho, brincos de cerejas
Uma barcaça traçava as águas do rio
A fome não passava
O abutre alisava as penas
As almas gritam
A liberdade!
Primeiro o subsidio, depois o salário, agora o empréstimo
Da terra brotam coisas
Enchem os camiões nas estradas
- Deite-se metade fora!
Manda a lei
E os meninos ao longe com estômagos do tamanho de ervilhas
Têm fome
Os abutres alisam as penas
Dizem
- As fronteiras não existem
- O mundo está na palma da mão
Imagens
A violência já não se faz de olhos inchados e peles purpúreas
Penduram-se as almas espetadas em pregos toscos e enferrujados
Que doem
No Silêncio
Que farei quando tudo arde?
Rasgo a folha de papel à minha frente
Fecho os olhos
Com o peso do mundo nas pálpebras
Viajo para o interior de mim
Limito-me
A acreditar
Abro os olhos,
Outros,
Pego no lápis e recomeço.
Os dedos secos, nodosos e escuros a remexer
A terra
Não havia água como para os marinheiros
Não havia ar como para os pensadores
Rostos caídos, olhares apagados, fronteiras cerradas
A noite durava um longo dia
E uma cantiga baixinho
Para consolar
Da terra brotavam coisas
Laranjas, pipas de vinho, brincos de cerejas
Uma barcaça traçava as águas do rio
A fome não passava
O abutre alisava as penas
As almas gritam
A liberdade!
Primeiro o subsidio, depois o salário, agora o empréstimo
Da terra brotam coisas
Enchem os camiões nas estradas
- Deite-se metade fora!
Manda a lei
E os meninos ao longe com estômagos do tamanho de ervilhas
Têm fome
Os abutres alisam as penas
Dizem
- As fronteiras não existem
- O mundo está na palma da mão
Imagens
A violência já não se faz de olhos inchados e peles purpúreas
Penduram-se as almas espetadas em pregos toscos e enferrujados
Que doem
No Silêncio
Que farei quando tudo arde?
Rasgo a folha de papel à minha frente
Fecho os olhos
Com o peso do mundo nas pálpebras
Viajo para o interior de mim
Limito-me
A acreditar
Abro os olhos,
Outros,
Pego no lápis e recomeço.