quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

seria indevido como um relâmpago


Thomas Struth

seria indevido como um relâmpago
partir ao meio o tronco
separar o som dos sinos
os mil fragmentos dos vidros -
quem poderá ser anjo sempre
de asas caídas
quando sopra o vento sul
e se perde a bússola
e se perdem os dias, os dias
os dias prometidos
e se perdem as causas e se embrulha um lençol branco
um sudário sem cor e sem espinhos
porque foi uma partida, um desvanecimento físico
um desvanecimento de presença e de sentidos
uma ausência de leituras
vapores insolúveis arrumados dentro de frascos antigos
em prateleiras largas de cerejeiras, polidas de ceras
aos pares, em brincos, vermelhos, sobressaindo
de aromas verdes de folhas, mal apreendidos –

sobram brancos e cinzentos
e seria indevido o silêncio das fontes
a elegia da sombra
ao omitir as gotas de água, para que a sede subsista
para que a semente se elimine -

josé ferreira 15 de Dezembro 2011