sexta-feira, 2 de abril de 2010

Perecível o rumo dos meus passos







«… ao desviar-se a rota,
Se rasga a perfeição»
Ana Luísa Amaral




É perecível o rumo dos meus passos,
Sinto-o no caminho que me toma,
Sinto-o nos nervos lassos
Ainda há pouco hirtos como traços.

Sei muito bem que a rota que tracei
São caminhos diversos da emoção –
Descalço-me na areia e penso-me a voar.

É perecível o rumo dos meus passos,
O meu caminho é feito de embaraços,
De laços e de nós como coluna vertebral,
Que com o tempo se curva para o chão,

Assim a perfeição
E a vontade se esbate e gasta o véu,
Transformando-o em rede esparsa
– Sombrios precipícios onde cai a luz.

José Almeida da Silva

O lobo e a neve





Na imagem o repouso e a mansidão,
Contemplação e fixa brandura.
Na voragem do olhar só o silêncio
Acoita vigilantes os sentidos –
Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac
Acelerado bate o coração –
E nem a friagem do vento rompe
Ou atormenta a quente lã de neve.

Somente a lua acende o desejo
Devorador da hábil mansidão
– E instala-se em mim o lobo
Como um sol capaz de explodir
Momento a momento
Sorrindo-se da presa.

Só o sangue é dinâmico na apatia –

José Almeida da Silva