quarta-feira, 17 de junho de 2009

TEMPO ALÉM DO TEMPO ( ou Outro Tempo)

Quero tempo de viver
preciso de tempo, de muito mais tempo,
porque um dia saís-te de mim
e leváste-me o meu tempo.
Por distanciação no tempo
e sem vontade expressa,
apoderáste-te do meu tempo:
o tempo alegre,
o da compaixão,
o do convívio
e da compreensão!...

Hoje vivo outro tempo:
o tempo do inconformismo,
e o tempo que gira em meu redor,
que é o da incompreensão,
o da marginalisação,
um tempo sem clarificação
e sem qualquer temporalidade!...

E eu , que até dominava o tempo
perdi assim de repente
todo o meu querido tempo.
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Mas pela paixão
recriei um outro tempo,
tempo de sentir,
tempo de amar e florescer,
mas ainda e sempre de saudade
por vezes de solidão:
é o meu tempo moderno,
assaz emotivo,
também de compensação,
mas em simultâneo
um tempo gélido
por ser de afastamento,
tempo de discriminação,
que eu devo compreender
mas que tanto afecta
meu tempo de viver!

Odeio agora o tempo,
aquele que eu não temia,
o mesmo que eu dominava!

Agora fragmento o tempo
para o preencher e aceitar,
e juro que nunca, mas nunca,
me deixarei por ele dizimar,
pois é um tempo que entristece
e por vezes me faz calar!
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Refugio-me silenciosamente
no tempo dos meus silêncios,
deixando-me assim dominar;
assim controlo o meu tempo,
o tempo que me vai restando,
mas que sempre me estimula,
incentiva e agiganta
na procura de um novo tempo:
tempo de nova vida,
de afeição e ternura,
tempo de concórdia familiar,
tempo de criatividade,
tempo de inovação de sentimentos,
tempo de humanismo
e de aproximação vital
entre todos os nossos tempos!
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Suplico apenas
mais tempo de viver,
um tempo de sublime vivência,
ou serei forçado a inventar
um pouco mais de tempo
além do meu actual
mas tão curto
e tumultuoso tempo!...


António Luíz ( 21-05-2009)

Como começa um conto

Comecei a ler um conto de Máximo Gorki que se chama " O pequeno pastor e a fadazinha "
com tradução de Egito Gonçalves e publicação da Quasi. Resolvi partilhar.

" As histórias que os homens contam são frequentemente tristes, não procuremos conhecer a razão deste facto e ouçamos antes uma delas, um conto sobre um tema antigo, que se pode ouvir nas margens do Danúbio, do rio azul...
Ao longo deste rio há uma floresta, velha e poderosa. Começa na própria margem e mergulha na profundidade das planícies; as ramagens prolongam-se por cima das ondas azuis e sonoras e as raízes nodosas e enrugadas deixam-se beijar e lavar pelas águas que acorrem à margem com um ruído suave e acariciador.
Na floresta viviam elfos, fadas e velhos gnomos, sábios, que tinham construído sob as raízes palácios onde meditavam acerca da vida e de todos os outros assuntos em que convém meditar para se ser sábio. À noite saíam para as margens sombrias e sentados em pedras recobertas por um macio musgo verde-escuro ou em velhos troncos abatidos pela tempestade, contemplavam as ondas que corriam para o mar, vindas de um longe incompreensível, tenso como uma cortina de trevas enevoadas, e prestavam atenção ao murmúrio do rio. "