segunda-feira, 18 de maio de 2009

Palavras maestrinas

Amo-te e nem sequer suspeitas
se nunca o disse
pois no último breve passeio
desceu a ave nocturna
na estranha chuva ácida
importuna
que estanque fez
o som tímido das cordas

doces palavras esbeltas
prisioneiras no bojo de um frasco
frágil no rio náufrago
descaindo transparente
no lugar de um mar desconhecido.

Amo-te e nada disse
no falar dos peixes
no discurso mudo
míope e trôpego de passos lentos
pálido hesitante nas sombras
círculos de hipnose
nas sete saias da noite errada.

Dobrámos a placa de lata vermelha
o stop da tabacaria; livros e revistas.
No eclipse momentâneo o cordão impotente
desapertou
roeu a calçada
esfiapou de linhas fracas.

Nada disse.


Amo-te muito e tu não sabes
mais e mais em cada praça
nos ângulos plácidos das esquinas
nas outras veias inscritas
de linhas claras pequenos fios
que de batuta me conduzem

ao dia de cenários
onde escavo a memória
e encontro
sempre alguma história
ainda muitos sentidos

à noite na insónia
onde soçobro triste;
aperta-me a ausência
soltam-se as lágrimas
desmoronam as muralhas
de tudo o que podia ser
e não existe


adormeço

na tela de um outro mundo
lugar idílico
cartas ridículas
palavras maestrinas
largas soltas e belas
de um amor
que então digo.