quinta-feira, 15 de julho de 2010

Tenho uma grande constipação


Fotografia retirada da internet



Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.

sobre a dor e o esquecimento


fotografia retirada da internet


o enorme grito do teu desespero
rompeu-me por dentro.
desceram os pássaros caíram as árvores.

os jardins despediram as flores.
um rodado negro de camião envolveu-as no opaco;
chão duro , de fósseis, de organismos devastadores.

um baraço de cordame circulou a dor
na roda do corpo como um bailado interminável;
a cabeça inclinada um triângulo obtuso no joelho
a giratória zonza sem possibilidade de paragem
o retorno o voltar atrás.

a tua dor imobiliza e prende as minhas lágrimas
como a chuva de um regador lento no interior.
porquê a chuva se lá fora o sol? Porquê?

queria ser Deus e ter o poder do esquecimento
para curar não só a dor
como a memória de
a doença o sofrimento

levar-te de volta ao baloiço
de pés ao alto cabelo ao vento e de frente
apenas uma arriba o grande mar
e em cada volta de azul crescerem asas

o nascimento de uma grande liberdade
e puderes voar voar voar -