Chove
A mesma água escorrida
Do dia, do olho e da ferida
Num dilúvio indistinto
Neste dia e no que sinto
Cá como lá
Assobia
Um vento que desafia
A verticalidade do ser
Pontes, ossos e dentes
Tremem forças indiferentes
À vontade de fazer
Trago dentro o mau tempo
A nuvem negra, o relâmpago
O tsunami e o ciclone
E quando de dentro me escapo
Abro a janela e destapo
Mais um negro pensamento
Que me trata pelo nome
E se da janela aceno
Vejo a cena tal e qual
Cá dentro mora o Inverno
Lá fora o temporal
sábado, 18 de junho de 2011
O dia deu em chuvoso
Fotografia retirada da internet
O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.
Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.
Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.
Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.
Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.
Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...
O dia deu em chuvoso.
Álvaro de Campos
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