quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Olympia

Enviaste-me as tuas mãos
e os teus dedos travestidos
de flores. Entre elas havia
uns lábios gordos de sangue,
dispersos de desejo. De mim?

Deitada e nua, espero-te
com meu olhar aceso
como o da negra,
como o do gato,
na serena tarde alvoroçada.
[De certo tiveste uma reunião
ou não foste capaz de confrontar
a força do prazer e a consciência.
Enviaste-me flores anunciando
a perversa bondade da acção.]

Agora só te falta a minha mão
os meus adornos, a minha flor
entre laços e abraços de ilusão.

Vem despentear a loucura
que Eros semeou em nós. Vem
ser meu rei e meu prazer. Serei
a tua Vénus e a tua Olympia – corpo
de sede no calor de um beijo e fogo
convidando o fogo do outro olhar.

José Almeida da Silva