Renoir
Então sento-me à tua mesa. Porque
é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não
dormissem
tua sombra e loucura,
não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o
silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos
mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras
na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.
Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram
como religião
sobre a vida – e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém,
teu sinal de fogo e leite repõe a
força
maternal, e tudo circula entre
teu sopro
e teu amor.
Herberto Helder