quinta-feira, 7 de junho de 2012

com as letras todas nas margens de um rio




escrevo-te de novo com as letras todas e as rugas nos olhos
de piscarem sombras
e afastadas para longe
 para um lugar sem retorno, distante –

coloca o rosto no meu ombro,
como um sossego imprevisto de uma baía
ou de uma margem revestida de arbustos verdes
quando os rios são um privilégio sem inocência
somos crescidos
e mergulha nessa profundidade fresca como num mistério
de segredos e significados de rendas, um afecto de búzios
uma memória de outros tempos mas com sentido, filtrada
tornada mais fina, mais de linhas, mais de linho, mais de almofadas e companhia
e de tempos parados olhando uma pulseira de  cores ou um céu de arco-íris
mais de momentos tranquilos, digo, e uma música de fundo
um intervalo sem vírgulas, sem soluços, sem lágrimas e sem mentiras –

mas não tremas
não tremas, nem no sorriso
o sorriso quando treme e como a queda de um hemisfério
a incompletude dos dias –

josé ferreira