Foi como se não tivesse aprendido que não volto, deixei rasgar-me, e levantei-me todos os dias por não querer sentir quase nada.
Por terra queria deixar a mágoa, queria também viver.
Icei
as velas do que tinha, pareceu pouco. Mas houve quem me disse ter tudo,
quem me ama. E que me perdoem ter sido eu cruel, tentarei depois
resgatar alegria para a partilhar, pois, larguei-me a deriva. Lancei-me à
tempestade.
E era, é, navegar sem destino no
deserto do mar. Aí eu senti quase tudo, até não ter palavras. Os dias
foram noites, as noites claras como dias.
Foi
como fome. Da dor, essa lâmina, sobrou sofrer. Às vezes disse, Que puta
de vida. Não foi bonito, por tudo que deixou de ser bonito. Também não
houve qualquer distorção.
E das vezes que
chegara a ânsia de dias claros, de terra firma sob os pés, vinham também
palavras à cabeça, palavras que me ditaram mal. Tenho eu de afastar
certas palavras todos os dias, estou completamente só. A solidão não faz
bem, ela só pode ser uma passagem.
Tem de
haver a serra onde viver, por onde andar descalça sobre chão de terra,
sobre chão de erva. Fazer fogueira com as tábuas, do barco partido onde
correm águas do mar.
E só estou eu, para as
compor enquanto tento que passe a saudade do bater do meu coração
tranquilo. Caí no logro por isso esta horrível parte da viagem, a saber
que é melhor não estar ninguém.
Que quero eu
chegar, meu corpo largar o barco, a nado alcançar a praia, subir a
serra. Desejo o calor da fogueira, gente que festeja à volta. Honrar a
terra, que sou terra, para depois adormecer e acordar abraçada a quem de
ser generoso.
Já estou eu... partida,
largada, fugida! Por sorte não volta. Nem sei se chegará, mas dá-me
tempo para conseguir seguir comigo em frente. Ainda sinto a
contrariedade de não querer que estas últimas palavras sejam verdade.
Ainda estou no barco, e confio que esteja só e apenas por mais algum
tempo.
("dou" este escrito ao Zémanel, claro!)