quinta-feira, 10 de junho de 2010

caminho florentino




a torre inclinada era no lugar imaginado.
o mercúrio de prata sobe acima dos trinta.
o comboio de janela aberta oscila, antigo
escorrega as linhas, afasta-se de Pisa
procura a flor florentina.

cortinas azuis de muitas quadrículas
percorrem o vento na carruagem
fora e dentro
dobradas e loucas em movimento
fora e dentro.

as estações sem fumo nem gente, de ar amarelo.
os campos vagos e ausentes, alguns de cor seca.
podia ser um qualquer lugar de Agosto
nas margens paradas do rio Coa
há muito tempo nas férias de muitos meses.

fora de linhas os rolos enrolados de cereais
uma imagem quieta de uma corrida
em pistas douradas de espigas.
de fronteira, árvores, onde se reconhecem
as vestes de flores vermelhas da romazeira
e as torres de losangos metálicos, altos
onde no alentejo fazem os ninhos
aves de bicos grandes;
curioso vê-las voar de fraldas atadas
responsáveis por todos os nascimentos.

a caminho de Florença as cortinas
voam leves no vento. fora e dentro.
fora e dentro.

num pequeno intervalo enquanto o calor
se estende de deslizantes gotas
surgiu a vontade de colocar as letras
nas costas largas de um bilhete.

poucas, poucas letras porque a caneta
rebolou numa tinta lenta e redonda
cansada transpirou, caiu para o lado
como se macio o banco da carruagem
ou o plástico cinza empolado e fraco
que escondia o chão.
caiu para o lado e adormeceu.

quando acordou de um sonho imaginado o rio Arno brilhava
e as margens mostravam muitos verdes de folhas pequenas;
reconheceu os amieiros de mãos estendidas e troncos finos.
inclinados. inclinados no equilíbrio difícil.

Florença é bonita -