Era o prédio mais alto na rua mais alta
da ciddade junto ao mar.
Telhados de remendos e vigas desalinhadas
condensadas em brilhos de alumínios
reflexos arco-íris nos dias húmidos
desfiando luz.
A rua era a mais funda na cidade baixa
de legos castanhos, vista do prédio alto.
A náusea do perigo a evidência da distância
na volta da varanda e a cidade inerte, suspensa.
Não havia asas talvez dormissem de bicos quentes
rodeadas de sovacos e o arfar de folhas verdes.
Das árvores na varanda alta não se viam troncos
apenas cabelos de selva, círculos infantis incertos
copas distintas de tílias, plátanos, loureiros
e o sobrevivente rododendro no átrio do Paço
que previa de botões pequenos, pontas de lança;
não era a época do lilaz.
Na varanda alta era um na cidade muda
recebia raios de chama golpes na face
e os dedos vincados no tubo inox
vidro aquecido.
Trouxe uma cadeira de lona uma mesa de arame
um guardanapo bordado um copo de água
abriu o bloco estendeu o olhar até ao azul
tão azul no limiar de um céu mais claro.
Lembrou o dia da casa mais baixa na rua mais
estreita da vila mais pequena
agora na varanda alta esplanada sobre o mar
onde certamente as gaivotas e os golfinhos
eram os mesmos indiferentes aos ritmos
dos cimentos e palavras tão distantes.
Não pôs o chapéu não queria
um fio de sombra separando o Sol
deixou-se ficar como quem aguarda
um amigo do céu uma sereia do mar
e interrogou-se se talvez não devia
trazer uma outra cadeira
ou antes
uma banheira na varanda alta.
E sorria e gritava na mais alta muralha
na cidade calada.