quinta-feira, 1 de abril de 2010

a floração de um fauno


Pedro Bakst "Nijinski como um fauno"


floração de um mês de abril sem actos falhados nem afasias.
interrogações contemplativas.

unidade,evolução e terapia nos lírios brancos
apesar de um descontrolado de um jardim
onde residem inconstantes pétalas e assimetrias;
recantos de bolbos por crescer e diferenças
de ervas invasivas.

em abril há um princípio de primavera, cíclicas vidas
como os ciclames da pérsia, independentes;
cinco lemes de vento num mar de barcos distraídos
em sonhos permanentes.

em abril há os céus intempestivos e os espaços;
gestos completos de palavras
pequenos pormenores de aromas e folhas de serrilha
e o encurtar de distâncias nas sombras de origamis.

em abril há pássaros voadores em árvores ainda despidas
e as metamorfoses de noites intermitentes;
um bailado de faunos alados nítidos de mitologias
e poemas -

Penélope



Waterhouse "Penelope e os pretendentes" 1912



Longo era o dia para tecer a teia e longa a noite para a desfazer,
Não fosse o meu amor esmorecer e o teu amor por mim
Não regressar.
Intacto amor e quase por provar –
Tróia tinha todo o teu olhar.

Ítaca, berço e altar, era o lugar eterno dos afectos.
E tu tinhas de voltar. Sentia-o a arder dentro de mim,
Uma imutável sedução como a luz do sol nascendo
Pela manhã por detrás da altura das montanhas pontiagudas.

A tua aventura e a minha indecisa beleza
Numa teia fiel e expectante.

[Cínica a persistência do meu pai e forte a minha resistência.]

Fingi ser bem-vindo um novo amor.
Não havia drama nem tragédia. Só raiva e só amor.
A teia assim desenrolava o tempo. O palco era o tear –
O mesmo curso por onde caminhava fiel o meu amor.

E uma seta ludibriou o teu intento
– Somente o puro amor é transparente.
2010.04.01
José Almeida da Silva