quinta-feira, 1 de abril de 2010

Penélope



Waterhouse "Penelope e os pretendentes" 1912



Longo era o dia para tecer a teia e longa a noite para a desfazer,
Não fosse o meu amor esmorecer e o teu amor por mim
Não regressar.
Intacto amor e quase por provar –
Tróia tinha todo o teu olhar.

Ítaca, berço e altar, era o lugar eterno dos afectos.
E tu tinhas de voltar. Sentia-o a arder dentro de mim,
Uma imutável sedução como a luz do sol nascendo
Pela manhã por detrás da altura das montanhas pontiagudas.

A tua aventura e a minha indecisa beleza
Numa teia fiel e expectante.

[Cínica a persistência do meu pai e forte a minha resistência.]

Fingi ser bem-vindo um novo amor.
Não havia drama nem tragédia. Só raiva e só amor.
A teia assim desenrolava o tempo. O palco era o tear –
O mesmo curso por onde caminhava fiel o meu amor.

E uma seta ludibriou o teu intento
– Somente o puro amor é transparente.
2010.04.01
José Almeida da Silva

1 comentário:

Joana Espain disse...

Cá está o amigo Poema que conheci pessoalmente no campo alegre, em 'teias que desenrolavam o tempo em palco de tear'. Bela seta transparente que nos atravessou ... Obrigada.