quarta-feira, 30 de maio de 2012

Amanhecer na luz

Há na cor invisível da pura luz a forma
O quente laço do olhar a embalar angústias

Os medos são monstros transparentes
Capas de ilusão maciça sem dono

(sinto os ossos mais fortes quando ris)

A matéria osteoblástica da tua força
Um mistério da metafísica

Cresço num gigante de sorrisos
(um abraço forte, forte)

Os monstros transparentes fogem, fogem
São tão pequenos à visível luz
O amor é a antiforma

( a matéria é uma ilusão arcaica)

O amor
Embala os barcos coloridos na nossa praia

(A luz cresce, cresce)

A verdade sobre os guarda-chuvas














A verdade sobre os guarda-chuvas

A chuva voltou de entre nuvens de fogo – amanhã
Vai estar calor, o céu tem nuvens róseas, o negro
Que as circunda é quadro para as mostrar aos olhares
Nuas – uma beleza inesperada na tempestade oculta
Por dentro das nuvens – tanta chuva por chover recolhida
Na abóbada que devia ainda ser azul celeste pouco antes
Do crepúsculo. A chuva há de chegar com bagas grossas,
Ou miudinhas, forte e fustigada pelo vento norte enregelado
De frio como vagas encrespadas de um súbito mar enfurecido –

E eu estou à janela esperando contemplar o espetáculo tão belo
E singular que as nuvens sempre oferecem no final do ciclo da água
– Não acho piada nenhuma aos guarda-chuvas de todos os tamanhos
E cores. Os guarda-chuvas impedem que a Natureza se mostre no seu
Esplendor e que a chuva lave as impurezas que as cidades depositam
Nos homens – A sujidade assim agarra-se à pele e instala-se no coração
E até na alma – Um incómodo para a chuva miudinha que tem de fazer
Muito mais esforço. Não sei bem para que servem os guarda-chuvas.
Não guardam nada e não deixam que a chuva se cumpra na sua função.

Estava eu debruçado na janela quando a chuva começou a cair a rodos.
Fechei a janela e saí para a rua – precisava de me lavar, e não me manter
Ali abrigado como se abrisse um guarda-chuva e deixasse as impurezas
Agarrarem-se a mim como lapas nos rochedos ou bolores nas paredes.

Todo molhado, da cabeça aos pés, sentia-me lavado e leve, e comecei a
Chamar por toda a gente como se estivesse a suplicar aos céus a bênção
Da água quando as secas se abatem sobre as florestas como furiosos fogos
Devastadores de mãos sujas. As pessoas vieram mas trouxeram os usuais
Guarda-chuvas e as botas de borracha. E eu fiquei sozinho no meio delas.
Parou de chover, e eu ri muito da inutilidade dos guarda-chuvas. Como o azeite,

Toda a verdade ilumina o poema, lucerna de sons, de ideias e versos acesos –
                                                                                                                           (2012.03.06)
                                                                                                                                      José Almeida da Silva