sábado, 18 de dezembro de 2010

a asa o anjo um remo sem barco - um poema de natal


Henri Cartier-Bresson


sabes, não posso esquecer os anjos
suaves, como os céus desconhecidos
onde planam límpidos -

eram cinco horas da tarde e a sombra acinzentava
a claridade dos basaltos.
muitas eram , muitos eram e em muitos passos
na feira de utilidades.
usava aqueles óculos de tartaruga de muitos anos
de lentes castanhas e passeava sozinho
com a calma de ser sábado.

muitos ombros, muitos olhares
entre os foles das máquinas, as canetas de aparo
os livros já antigos, e até um cachimbo
na sua pose sentada de um remo sem barco.

um intervalo, sim um intervalo, porque fruto do acaso
apenas passava da mesma forma que um certo vento
e a luz de uma sirene azul, à frente
naquele lugar, que se tornava livre e convidava
a um intervalo, um intervalo por acaso
como aquela asa por acaso
uma simples asa de barro, frágil, sem o esmaltado.

ainda perguntei, mas ninguém… limitavam o passo
e mesmo sem compreender, avançavam
avançavam como relógios cronometrados.

a asa branca com aqueles redondos de um lado
na forma de boomerang, a asa.
perdi-me no instante poético de um sinal
um símbolo, a época especial
uma asa, uma asa de um anjo
de lá de cima.

comovi-me com a imagem, um anjo no ar suspenso
deixando cair espírito para se tornar no pequeno barro
e sabes, se naquele momento por ali passasses
colocaria uma mão aberta sobre o teu rosto
e com o outro braço em forma de asa
assim de repente, abraçava-te -

depois passeava os dedos pelos teus cabelos
assim abertos, assim separados
e voltava ao rosto suave com a palma
e sem mais nada, mesmo sem palavras
abraçava-te, abraçava-te -