sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A derme adormecida

A derme adormece endémica
sede pele vermelha
na quente tarde que queima
(toalha de felpo montes de areia)
lençol que passeia uma outra pele
macia indelével invisível de tela
branca tontura as ondas perto.

Se a nuvem se descuida e voa a mosca
afasta-se a espuma retoma a forma
o fresco ciúme de sol posto
na derme
que acorda e estremece.

A poesia de "quase"

Gostei imenso desta poesia de Mário Dionísio que agora partilho convosco;
uma poesia de "quase" que "quase" acontece.

Uma mulher quase nova

Uma mulher quase nova
com um vestido quase branco
numa tarde quase data
com os olhos quase secos

vem e quase estende os dedos
ao sonho quase possível
quase fresca se liberta
do desespero quase morto

quase harmónica corrida
enche o espaço quase alegre
de cabelos quase soltos
transparente quase solta

o riso quase bastante
quase músculo florido
deste instante quase novo
quase vivo quase agora