Só para voltar ao meu papel de homem sem disfarces vou partilhar convosco este passeio!
Segredos de Mulher (Women's Secret)
Tarde de Outono na baixa da cidade
passámos as fronteiras
do "Segredos de Mulher".
De passos lentos, fui único
entre manequins de redondas formas.
Cruzei o olhar nos seios ausentes
de "soutien",
nas transparências e opacidades
de calcinhas.
Remexi as concavidades das gavetas
na procura das meias altas,
cor verde,
das calças de pirata!
Bati asas ao "Tweety"
das camisas de dormir,
pisquei o olho, sorri,
à "Betty-Boop"
no "underware" decotado!
Os ruídos das lojas de senhoras
são feitos de murmúrios,
de sussurros de tamanhos;
preferências escondidas!
As chinelas de riscas azuis,
as de caraculo, quentinhas,
batem palmas de pés,
ao único homem,
junto às provas, nas cortinas!
Duas amigas,
uma de "Babby Doll",
botas pretas,
outra de menor graça,
em alturas distintas, de roupão,
em trajes de roupas finas!
Por cima das lentes obrigatórias,
na leitura do M, S, XS,...
enquanto estendia a mão
dentro do teu espaço
(procura de forma, medida certa)
formulo dúvidas:
"-Acha bem? Sem a pele solta
no deslizar interior?
Um roupão beige?
Meia preta?"
Cansei de gestos comprometidos.
Encosto o queixo aos quadrados
do casaco alcochoado, sem mangas,
sem braços, sem corpo...
junto à montra dos glúteos,
do triângulo, fio dental.
No azul que acinzenta,
espero a noite;
na mesma cor "wonder-bra"
que, feliz, te aconchega
a fina seda!
Sobe o autocarro contrário,
em Santa Catarina,
de cor branca...
entram mãe e filha,
de roupa e cabelo gémeas...
Por fim,
surges luminosa,
no rosto de moldura,
nos caracóis de musa...
E na calçada nua,
um espelho de prata,
de mão dada
a alva Lua!
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
companheiros, na tentativa de fazer o trabalho de casa acabei fazendo a continuação do mesmo. no lugar da certeza, saiu-me a ambiguidade.
este exercício deu-me uma enorme vontade de escrever sobre a dança, porque nela tenho momentos onde nao existem palavras, nem tempo, nem espaço. neste poema em específico, quem vos parece que guia? e quem é guiado? gostava de ouvir opiniões.
Mal sei o chão sob os nossos pés
Ou as paredes espectadoras da nossa dança.
Agora – o único tempo que existe –
Sou a leve pressão do teu corpo,
A mão que se aninha no espaço entre as tuas costelas brancas,
A outra que sustenta a tua, flor tão suave;
O corpo que te envolve e protege,
Os pés que te guiam com destreza.
Abrigas timidamente o teu queixo no meu ombro.
Sinto o teu respirar húmido sussurrar-me ao ouvido
e o teu cabelo passear-se no meu rosto.
Será de quem, o coração que se ouve?
sara riobom
este exercício deu-me uma enorme vontade de escrever sobre a dança, porque nela tenho momentos onde nao existem palavras, nem tempo, nem espaço. neste poema em específico, quem vos parece que guia? e quem é guiado? gostava de ouvir opiniões.
Mal sei o chão sob os nossos pés
Ou as paredes espectadoras da nossa dança.
Agora – o único tempo que existe –
Sou a leve pressão do teu corpo,
A mão que se aninha no espaço entre as tuas costelas brancas,
A outra que sustenta a tua, flor tão suave;
O corpo que te envolve e protege,
Os pés que te guiam com destreza.
Abrigas timidamente o teu queixo no meu ombro.
Sinto o teu respirar húmido sussurrar-me ao ouvido
e o teu cabelo passear-se no meu rosto.
Será de quem, o coração que se ouve?
sara riobom
Fuga Silenciosa
Pela noite além,
eu , só, vagueio
em um lento e lasso vaguear,
para em silêncio escapar
a este longo e vasto
inferno de mágoas!...
O sono me não cerca
nesta noite sem luar,
que só me dá para errar,
sempre, sempre... sem parar.
Não se me dá p'ra cuidar...
E sigo sem um alento,
pois que sem tal sofrimento
coragem não hei p'ra viver...
Só um vago pensamento
em mim há muito existe...
Não se me dá p'ra parar
e muito menos p'ra recuar!
Só cansaço em mim há
mas persigo caminho além,
só, pela noite agreste,
só, sem mais ninguém,
sem esperança já de salvamento,
sem poder agora, enfim,
para sempre só esquecer
este tormentoso tormento!...
Só vontade hei de seguir,
que um nada me fará desistir.
O caminho é longo, sem fim,
sem paragens,
sem obstáculos quaisquer!...
Mas forte fadiga me invade,
que em pé me não seguro!...
E não me foi dado que um fim desse
a meu inconcebível sonhar,
não consegui a liberdade
que dela hei tanta saudade!
...Mas mais uma vez entendi
que se a prisão do que a morte
é, na verdade, mais forte,
é pior estar-se preso
do que ( na vida) já morto!
(Luanda 1965 - in "Eu e o Silêncio" (1994/2008 )
Poema em geito de despedida deste Blog...mas
não significa fuga!...
eu , só, vagueio
em um lento e lasso vaguear,
para em silêncio escapar
a este longo e vasto
inferno de mágoas!...
O sono me não cerca
nesta noite sem luar,
que só me dá para errar,
sempre, sempre... sem parar.
Não se me dá p'ra cuidar...
E sigo sem um alento,
pois que sem tal sofrimento
coragem não hei p'ra viver...
Só um vago pensamento
em mim há muito existe...
Não se me dá p'ra parar
e muito menos p'ra recuar!
Só cansaço em mim há
mas persigo caminho além,
só, pela noite agreste,
só, sem mais ninguém,
sem esperança já de salvamento,
sem poder agora, enfim,
para sempre só esquecer
este tormentoso tormento!...
Só vontade hei de seguir,
que um nada me fará desistir.
O caminho é longo, sem fim,
sem paragens,
sem obstáculos quaisquer!...
Mas forte fadiga me invade,
que em pé me não seguro!...
E não me foi dado que um fim desse
a meu inconcebível sonhar,
não consegui a liberdade
que dela hei tanta saudade!
...Mas mais uma vez entendi
que se a prisão do que a morte
é, na verdade, mais forte,
é pior estar-se preso
do que ( na vida) já morto!
(Luanda 1965 - in "Eu e o Silêncio" (1994/2008 )
Poema em geito de despedida deste Blog...mas
não significa fuga!...
4º trabalho de casa - O Maltratador
O maltratador
Levanta,amor, levanta
São horas de jantar
Tira a faca daí!
Por que não me respondes?
Diz, onde estavas?
Tu sabes que adoro ver-te em casa
quando chego do jogo.
Deitada assim no chão
atinges os teus ángulos mais belos...
Sabes , meu bem , que eu gosto de ti...
Que estaremos juntinhos para sempre
E que a minha força eterna e excessiva te protege
Essa expressão dos teus olhos mete medo.
Anda, levanta-te.
São horas de jantar, não ouves?
Mexe-te.
Foi só um empurrão.
Eu trouxe-te o pão e o vinho.
Há trinta que casamos, lembras?
E continuas
cosmeticamente perfeita,
em formas, em volumes e em conversas.
És tão desejável...
Acorda, amor, acorda
São horas de jantar
Limpa o sangue ...do teu corpo.
Levanta,amor, levanta
São horas de jantar
Tira a faca daí!
Por que não me respondes?
Diz, onde estavas?
Tu sabes que adoro ver-te em casa
quando chego do jogo.
Deitada assim no chão
atinges os teus ángulos mais belos...
Sabes , meu bem , que eu gosto de ti...
Que estaremos juntinhos para sempre
E que a minha força eterna e excessiva te protege
Essa expressão dos teus olhos mete medo.
Anda, levanta-te.
São horas de jantar, não ouves?
Mexe-te.
Foi só um empurrão.
Eu trouxe-te o pão e o vinho.
Há trinta que casamos, lembras?
E continuas
cosmeticamente perfeita,
em formas, em volumes e em conversas.
És tão desejável...
Acorda, amor, acorda
São horas de jantar
Limpa o sangue ...do teu corpo.
4º Trabalho de Casa
Prostrado em cachimbadas solitárias
Olhava o rio e as coisas de nada.
Era velho.
Velhas as coisas, velhas as almas, velho o poeta.
Havia de ser Maio todos os dias
E ver-te enlaçada em vestidos de vento e de papoilas.
Poder olhar-te com a mesma certeza de outrora
de que não era velho, nem velha era a alma de agora.
Sem pesos, sem velhice aberta
em escombros.
Não quero mais levar aos ombros a poeira das gavetas!
Pudera eu abrir-me em portas
E ventos e borboletas!
Ou quando Deus fechar a porta abrir sempre uma janela,
ou um poema.
Ou versos feitos de outro tema.
Que com versos hei de olhar-te mais de perto
Sem pegadas, rastos de anos e fogueiras!
Olhar as curvas certas da tua poeira.
E assim esconder as barbas que branqueiam a poesia
Assim mudar-te as cores e roubar-te a companhia
Depois esfumar-te a idade e os momentos que são nossos.
E não ser velho.
E não ser homem.
Apenas ossos.
José Sarmento
(Maria Inês Beires)
Olhava o rio e as coisas de nada.
Era velho.
Velhas as coisas, velhas as almas, velho o poeta.
Havia de ser Maio todos os dias
E ver-te enlaçada em vestidos de vento e de papoilas.
Poder olhar-te com a mesma certeza de outrora
de que não era velho, nem velha era a alma de agora.
Sem pesos, sem velhice aberta
em escombros.
Não quero mais levar aos ombros a poeira das gavetas!
Pudera eu abrir-me em portas
E ventos e borboletas!
Ou quando Deus fechar a porta abrir sempre uma janela,
ou um poema.
Ou versos feitos de outro tema.
Que com versos hei de olhar-te mais de perto
Sem pegadas, rastos de anos e fogueiras!
Olhar as curvas certas da tua poeira.
E assim esconder as barbas que branqueiam a poesia
Assim mudar-te as cores e roubar-te a companhia
Depois esfumar-te a idade e os momentos que são nossos.
E não ser velho.
E não ser homem.
Apenas ossos.
José Sarmento
(Maria Inês Beires)
Vem ver meu amor
As estrelas lá longe
Piscando-nos os olhos
Como um círio a arder!
Vem ver meu amor
As estrelas lá longe
Vestidas de mar
Cantam melodias
Como as sereias
Nas marés vazias
Canções de encantar
Por dentro da gente
E do sofrimento!
Vem ver meu amor
As estrelas lá longe
Morrem de cansadas
Caindo no mar
E nas enseadas
Como peixes de prata
Nas altas marés
Ondas encrespadas
Por dentro da gente
E aos nossos pés!
Vem ver meu amor
Lá longe as estrelas
Vem comigo vê-las!
José Almeida da Silva
In " Amanheceste em mim pelo poente"
Publicado por Maria Celeste Carvalho
Nota: E é assim, com este lindíssimo poema,
que dou por terminada a minha participação
neste blog, dedicado à Poesia!
M.C.
As estrelas lá longe
Piscando-nos os olhos
Como um círio a arder!
Vem ver meu amor
As estrelas lá longe
Vestidas de mar
Cantam melodias
Como as sereias
Nas marés vazias
Canções de encantar
Por dentro da gente
E do sofrimento!
Vem ver meu amor
As estrelas lá longe
Morrem de cansadas
Caindo no mar
E nas enseadas
Como peixes de prata
Nas altas marés
Ondas encrespadas
Por dentro da gente
E aos nossos pés!
Vem ver meu amor
Lá longe as estrelas
Vem comigo vê-las!
José Almeida da Silva
In " Amanheceste em mim pelo poente"
Publicado por Maria Celeste Carvalho
Nota: E é assim, com este lindíssimo poema,
que dou por terminada a minha participação
neste blog, dedicado à Poesia!
M.C.
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