terça-feira, 20 de dezembro de 2011

desencontro - um poema de natal




não habitei os lugares habituados de natal
não liguei o rádio e pensei em ti
nessa fúria de olhos que te abarca
sendo o teu estado natural o de uma concha
rodeada de ruídos de mar e de cinzentos bons –

não quero acrescentar a neve artificial
o aerossol de falso branco
nem renas nem trenós nem Ooh! Ooh! Ooh!
apenas dizer-te algo de diferente que te acalme
que te abra um sorriso manso
como dedos quentes de lã, deslizando
pelo canto esquerdo da nuca
torneando o cimo dos ombros
a curva inclinada do pescoço
e terminando num chorinho muito baixo
que seja curto e depois pare
num abraço que seja forte, muito forte e depois pare
e num silêncio que junte todas as palavras
que não disse, que não disseste
nas mil e uma oportunidades –

sinto que as nossas almas estão despenteadas.
não percebo a razão porque não és concha
porque não sou onda –

josé ferreira 19 dezembro 2011