Mostrar mensagens com a etiqueta Alexandre O'Neill. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Alexandre O'Neill. Mostrar todas as mensagens
sexta-feira, 15 de junho de 2012
a arte de um soneto de Alexandre O'Neill
No primeiro é assim: fica de parte.
No segundo já posso prometer
que no terceiro vai haver mais arte.
Mas afinal não houve... Que fazer?
Melhor será calar, pois que dizer
nem no sexto conseguirei destarte.
Os acentos errados é favor não ver;
nem os versos errados, que também sei hacer...
Ó nono verso por que vais embora
sem que eu te sublime neste décimo?
Ao décimo primeiro dediquei uma hora.
Errei-o. Mas que importa se a poesia,
mesmo que não o errasse, já não vinha?
É este o último e, como os outros, péssimo...
Alexandre O'Neill, in Poesias Completas 1951/1986 lido aqui
sábado, 5 de novembro de 2011
a meu favor tenho o verde secreto dos teus olhos

Vladimir Kush
A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer
A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.
Alexandre O'Neill
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Veneza aos gatos
Lisboa às moscas e Veneza aos gatos…
(os pombos da bondade só conspurcam
a praça de S. Marcos)
… ao gato perna alta que não vem quando o chamas,
ao contrário da patrícia mosca,
que não era para aqui chamada,
mas logo te soprou os últimos zunzuns
mal chegaste a Lisboa.
O gato de Veneza não te dá pretextos
para miares o que te vai na alma,
nem os sacros temores da miaulesca
esfinge rilkeana.
Não é um gato é um perfil de gato
tapando a saída da calleta.
O gato veneziano é gato sem regaços
e sem selvajaria.
De Veneza o gato é sempre muitos gatos
que vão à sua vida…
… como tu, afinal, não vais à tua.
(De Veneza a Lisboa, num zunido,
já trazias a mosca no ouvido…)
Alexandre O'Neill
Assinar a Pele, Assírio & Alvim, 2001
sábado, 21 de novembro de 2009
Há palavras que nos beijam

Sonia Delaunay "Projecto para quatro xailes"
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperançar louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Poesia curta
Alguns poetas têm o condão de escrever em poucos versos grandes mensagens
daquelas que ficam na memória como uma estrofe de pauta, uma canção.
A história da moral
Você tem-me cavalgado,
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.
Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo!
Alexandre O'Neill
daquelas que ficam na memória como uma estrofe de pauta, uma canção.
A história da moral
Você tem-me cavalgado,
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.
Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo!
Alexandre O'Neill
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Há palavras que nos beijam
Poema de Alexandre O’Neill, interpretado por Mariza
Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas Inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Subscrever:
Mensagens (Atom)