terça-feira, 14 de setembro de 2010
Notícias do Inferno
A questão é o trânsito sempre caótico nas vias principais do inferno. Só de helicóptero poderia cortar os membros supérfluos dos anjos e viajar até ti, que estás no céu de quarentena, tão descalça quanto aborrecida de tantos monossílabos ideais e sufocantes carícias.
Não fosse este pequeno pormenor e as distâncias inabaláveis que ainda pesam sobre as duas estâncias fixas - nós, dir-te-ia que há um lugar no purgatório, totalmente patrocinado pelo mal implícito, onde a clandestinidade está vestida de branco e os rumores de bom sexo e melhor asilo já chegaram, inclusive, às portas do paraíso, ainda que deturpados pela vulgar consciência de quem os repele por rivalidade, diferente cor política, ou apenas enquanto gesto reactivo,
como a virgindade velha da inveja camuflada de sermão.
E abolindo a pertinácia desses pormenores, a minha proposta é a de que nos encontremos precisamente neste sítio. Afinal, no inferno as distâncias não estão assim tão doentes que não possam – como no paraíso – não existir, e há bem pouco tempo foi inaugurada uma auto-estrada (que ainda carece de limites) entre o Inferno e o Céu, passando precisamente por essa área de infracção aberta
24h por dia,
para quem, como tu e como eu,
precisa muito de voltar a sofrer
lesões e orquídeas.
Wild nights
Wild Nights – Wild Nights!
Were I with thee
Wild Nights should be
Our luxury!
Futile – the winds –
To a heart in port –
Done with the compass –
Done with the chart!
Rowing in Eden –
Ah, the sea!
Might I moor – Tonight –
In thee!
Noites Bravias - Noites Bravias!
Estivesse eu contigo
Tais Noites o nosso
Deleite seriam!
Fúteis - os Ventos -
A Coração em porto -
Inútil a Bússola -
Como o Mapa inútil!
Remando em Éden -
Ah, o Mar!
E eu ancorar - Esta Noite -
Em Ti!
Emily Dickinson "Cem Poemas" Relógio d´Água 2010
Trad. Ana Luísa Amaral
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