quarta-feira, 28 de março de 2012

A lógica do amor

A lógica não tem olhos nem sabe sentir
Hermética na dor decide em cru e ri
Há sabedoria na dor, tão leve como a ausência
Toda a luz é leve, inesperadamente profunda
Pesa a tristeza, mente em chumbo
Caminho em vazio, sopro estranho o do amor.
Vento que revolve, enleia e move
Flores presas nas mãos como beijos
Ondas largas que inundam o rosto
Vagas áureas e nos cabelos a solidão.
Asas episódicas libertam-se nuas
Colhe-se a sombra nos segundos
As sementes voam e são espectros
Fantasmas mnésicos do que foi
O amor não tem lógica, é um transacto.

lua crescente





uma lua crescente e branca venceu a noite.
aquela noite que por vezes sem chave
não abre as portas e se perde na estrada
procurando palavras
procurando sempre palavras –

é grande o poder da lua na noite original.
a noite original é aquela que não tem regras
a noite dos aromas das glicínias maduras
a noite que não é mão fechada nem praia deserta
a noite que se debruça sobre as águas e sobre as ondas
onde há um barco ao largo sem visão de terra
o barco de um sonho que caminha com pés de tábua
sem remos sem velas por vezes magoado –

e a lua crescente crescendo na noite mostra-lhe uma estrela
como quem desce de uma longa escada para lhe tocar o cabelo
para lhe iluminar os olhos tapar os ouvidos e erguer a cabeça -

e a lua crescente traz uma luz no mar e senta-se no barco
um barco em forma de gente de pés molhados –

e o mar compreende tudo e fica iluminado
abre uns lábios brancos
e na força do vento e de vagas incessantes
ergue uma mão gigante de espuma e de sal
e mistura barco e lua de uma só vez
de uma só vez na hipnose do tempo
como se solúveis
feitos de uma mesma essência

a lua no barco e o barco na lua
assim de repente –


josé ferreira 28 março 2012