terça-feira, 14 de outubro de 2008

No recanto da cortina

Na curva do cotovelo
sigo a rota da pele,
mão aberta que passa
na planície do seio.
Humidades de lábios
unem margens em abraço;
silêncio de dedos, procura,
emoção que desagua.
Braços, pernas,
morenas, marfim,
entrelaçam segredos,
teias, desencontros,
socorros de infância!

Olhamos o céu
no recanto da cortina,
de tule branco, fina...
desnuda, a Lua,
brilha...
cor de prata neblina!

"O mar no seu lugar por um relâmpago"


fotógrafo: Peter Wilson


Cortas como um relâmpago
O desejo húmido de ti
Cravas no teu corpo
Rastos de pele salgada
De pequenas partículas de mim
E nesse momento em que tomas
Ouço invadindo o arrepio preso
Palavras…
Palavras que sangram
Da doce rebentação
Ecoando a uníssono
O relâmpago do mar.


filinta

Atenção! Mera opinião.

A percepção visual do “idiota”, revela uma original similitude entre mar e azeite. Pode abrir caminhos… Se pensar que “azeite” não é só cor, é também estado, lenta fluidez que esperamos que também atinja o tempo que nos resta.
Com Nava, “O mar” parte para o “Universo Sublime”, ou quase, ou talvez nem parta para aí. Se parte, parte com a radicalidade e complexidade de uma violenta beleza. Pede, exige (porque é imperativo) a substituição do mar “por um relâmpago”, rápido fenómeno que surpreende, assusta e deslumbra. Transfigura a quietude do mar em revolto e ensurdecedor clarão. Incrivelmente subtil, grandioso, um só mar, um só relâmpago, lhe basta ao Nava, me basta também a mim! Ao substituir o mar–água pelo relâmpago-nuvem, luz de nuvem de água, a luz pode ser “muito”, criação e destruição, despertar e perda. Talvez nem haja dualidade, sendo a luz transformação.
Gosto do clarão, como gosto da tempestade, mar que é serra, ondas que são montes. Eu não substituiria nada. “O mar”, espelho distorcido do céu carregado, negro, recebe a energia do relâmpago. Ele ofusca meus olhos, arranca meu coração, paralisa minha mente, mas quando recupero o folgo, digo, estou viva!
Nota: Alguém disse, a vida é tão bela que corremos o risco de não ver essa mesma beleza. E uma outra pensa, se não se conhece a escuridão, como poderíamos identificar a luz. Imaginá-la não seria igual, pois não?! Experimente com alguém fechar-se numa sala, correr as persianas até a obscuridade completa, espere alguns segundos, abra muito pouco uma das persianas, pergunte ao outro o que vê, o outro responderá, um raio de sol, pergunte porquê vê a luz, esse outro revelará, porque estava escuro! Simples, não é!
(3ºTrabalho de casa)
Anabela Couto Brasinha

O próximo artigo de aves terríveis

O próximo artigo de aves terríveis
percorresse ar, origem, isoladamente…
Elo mais interior de penas de ar leves
resto de linhagem de aves recente

Esses ocos 0ssos-de-ar-do-rio aéreos!
O elefante de peles de invadidos
ou calor de penas de aves, excesso ar….
Desse ar primo, desse ar novo libertar!

(2º Trabalho para Casa – Escrita Criativa 2008)
Anabela Couto Brasinha

É marfim aberto como livro

É marfim aberto como livro
cenas feitas de baleias partidas
esculpidas de artefacto de pedra

Restos de dias e anos de caçadas
Três, mil, lâminas de marcação
desenhos últimos de um artefacto

Como imagem de marfim aberto
aberto como livro de pedra!

(1º Trabalho para Casa – Escrita Criativa 2008)
Anabela Couto Brasinha
«A poesia começa quando um idiota diz a propósito do mar, parece azeite.»
Cesare Pavese
«O mar, no seu lugar pôr um relâmpago.»
Luís Miguel Nava


1.
Corri para a beira-mar
Para te ver,
A noite era só luz cruzando o ar.

Há relâmpagos que valem um amor
de flor e sal
E o mar que fica a arder dentro de nós.

O mar assim é o lugar onde habita
O infinito todo
Para te amar.

2.
Subi extasiado ao pico de uma onda,
Toquei com a minha mão a luz fervente
E senti a alma pura de repente.

Como o mar que eu alcanço e em que danço
Assim o relâmpago, o azeite, a verdade, meu amor –
Aceso corpo da tempestade e da bonança.

E não sei se sou capaz da felicidade que este mar
De amor assim me anuncia, passada a preclara tempestade,
Mas seria feliz, eu creio. Por um dia ou pela eternidade.
2008.10.12
José Almeida da Silva

Sessão de Poesia Café Progresso 16 de Outubro 21h30

Noites de Poesia no Pinguim - Todas as segundas a partir das 23h