Não querer é desistir
é não ser nada.
É partir à nascença
a essência de existir.
Não querer é insolver
abismar de disfunção.
É viver a culpa alheia
é ser nada e existir.
Por isso quero
essa dor de impossível
esse mar de Adamastor
esse ardor de querer ser
esse ser de fingidor.
Ter a sede de poema
e ele ser
água e alma no deserto.
Por isso quero!
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Um poema da Ana Luísa
SILOGISMOS
A minha filha perguntou-me
o que era para a vida inteira
e eu disse-lhe que era para sempre.
Naturalmente, menti,
mas também os conceitos de infinito
são diferentes: é que ela perguntou depois
o que era para sempre
e eu não podia falar-lhe em universos
paralelos, em conjunções e disjunções
de espaço e tempo,
nem sequer em morte.
A vida inteira é até morrer,
mas eu sabia ser inevitável a questão
seguinte: o que é morrer?
Por isso respondi que para sempre
era assim largo, abri muito os braços,
ditraí-a com o jogo que ficara a meio.
(No fim do jogo todo,
disse-me que amanhã
queria estar comigo para a vida inteira)
Ana Luísa Amaral
"Poesia Reunida 1990-2005"
É sempre bom voltar à poesia da "Prezada Mestra"!
A minha filha perguntou-me
o que era para a vida inteira
e eu disse-lhe que era para sempre.
Naturalmente, menti,
mas também os conceitos de infinito
são diferentes: é que ela perguntou depois
o que era para sempre
e eu não podia falar-lhe em universos
paralelos, em conjunções e disjunções
de espaço e tempo,
nem sequer em morte.
A vida inteira é até morrer,
mas eu sabia ser inevitável a questão
seguinte: o que é morrer?
Por isso respondi que para sempre
era assim largo, abri muito os braços,
ditraí-a com o jogo que ficara a meio.
(No fim do jogo todo,
disse-me que amanhã
queria estar comigo para a vida inteira)
Ana Luísa Amaral
"Poesia Reunida 1990-2005"
É sempre bom voltar à poesia da "Prezada Mestra"!
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