quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Olá, amigos de palavras, estive calada, tempo demais.
Lamento a minha não presença no último encontro de poesia. Mas, conforme já tinha comentado, a minha princesa mais velha fez anos nesse dia, e como entendem, há tanta poesia na preparação e execução de um jantar de festa, que era de todo impossível a minha ida ao Porto.
No entanto, confirmo a minha presença no próximo dia 16. Agradeço muito, e isto é para si, José, que poste o trabalho de casa logo que possível. Beijos

Fecho a porta
trancada do lado de fora
recebo o frio no rosto
recebo a noite minha irmã
como tu escura
como tu mentira
olho bem alto
pontos brilhantes encontro
que não me iluminam a alma
asas me crescem no dorso
abrem-se em toda a sua envergadura
já não sou eu
em anjo me transformo
anjo de manto negro
na brisa gélida da noite plana
vagueia errante sem sentido
de pensamento liberto
de coração acorrentado
a vontade de voar é brutal
dor funda sente no peito
algo o atinge sem contar
as asas recolhem sem aviso
os pés no chão sinto
sou eu
pouco depois adormeço com sabor amargo nos lábios

Concurso de desenho

Caros poetas e poetisas,
não querendo misturar as artes, mas já misturando, lembrei-me de vir aqui fazer um apelo.
Eu concorri para um concurso de desenho da Throtlleman, uma loja de roupa maioritariamente para crianças e adolescentes, e os vencedores determinam-se pelo numero de votos nos desenhos. Os votos sao feitos no site http://www.mundofunny.com/, em "concurso de desenho". Ao ir para a "galeria", os meus dois desenhos estão na página 12 e dizem Maria Inês ao lado.
Para votar é necessario um registo rapido no site - nome, email, etc. - e o numero de estrelas corresponde ao quanto gostam do desenho. No dia 15 a votação fecha e quem tiver mais estrelas e depois mais votos ganha.
Portanto, se tiverem paciência, e se acharem que os meus desenhos até merecem 5 estrelas (ou então que eu mereço porque até sou uma menina simpática de vez em quando) poderiam perder uns minutinhos e ajudar-me :)

Um grande beijinho e obrigada!

Maria Inês Beires

Há cidades cor de pérola onde as mulheres V


Matisse "A janela azul" 1913



Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.

Há cidades esquecidas pelas semanas fora.
Emoções onde vivo sem orelhas
nem dedos. Onde consumo
uma amizade bárbara. Um amor
levitante. Zona
que se refere aos meus dons desconhecidos.
Há fervorosas e leves cidades sob os arcos
pensadores. Para que algumas mulheres
sejam cândidas. Para que alguém
bata em mim no alto da noite e me diga
o terror de semanas desaparecidas.
Eu durmo no ar dessas cidades femininas
cujos espinhos e sangues me inspiram
o fundo da vida.
Nelas queimo o mês que me pertence.
o minha loucura, escada
sobre escada.

MuIheres que eu amo com um des-
espero .fulminante, a quem beijo os pés
supostos entre pensamento e movimento.
Cujo nome belo e sufocante digo com terror,
com alegria. Em que toco levemente
Imente a boca brutal.
Há mulheres que colocam cidades doces
e formidáveis no espaço, dentro
de ténues pérolas.
Que racham a luz de alto a baixo
e criam uma insondável ilusão.

Dentro de minha idade, desde
a treva, de crime em crime - espero
a felicidade de loucas delicadas
mulheres.
Uma cidade voltada para dentro
do génio, aberta como uma boca
em cima do som.
Com estrelas secas.
Parada.

Subo as mulheres aos degraus.
Seus pedregulhos perante Deus.
É a vida futura tocando o sangue
de um amargo delírio.
Olho de cima a beleza genial
de sua cabeça
ardente: - E as altas cidades desenvolvem-se
no meu pensamento quente.




Herberto Helder
Lugar
Poesia Toda
Assírio & Alvim
1979