quarta-feira, 13 de outubro de 2010
sim - de um e de outro lado do sentido
Max Ernst "Vox Angelica" 1965
sim, sem a contrariedade de um mal formado vento
afirma-se o tempo elíptico, o irregular diâmetro
o círculo incompleto;
vejo no fundo dos teus olhos a dinâmica da íris
a cor clara e líquida que transporta os mundos
e um pêndulo de arames, gigante
que oscila de encontro à névoa, sem ruído
oscila, e oscila, e oscila, mudo;
não ganha a forma breve do desvario
nem o discurso de um tempo exacto e límpido
surge de um e de outro lado
de um e de outro lado do sentido, o pêndulo
oscila, e protege e solta e larga e observa
e prende e imana como espada e como escudo
de um refúgio recíproco e dádiva azul –
do urubu e da gaivota
a dele deitava-se negra
e desistia do ar devagar
a dela tremia de espuma
ao ângulo de um outro quebrar
e sem que as árvores os vissem
trocaram em asas caladas
a terra pelo mar
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