sexta-feira, 14 de maio de 2010

Chelsea


Gerhard Richter "fuga"

------------------------------------- I don’t mean to suggest
------------------------------------ that I loved you the best
-------------------------------------------------Leonard Cohen

eram tuas essas gotas caindo no rosto branco
o gesto meu de frente como um espelho
pousou as suas dentro de um copo de bolso às riscas;
a camisa azul, a preferida.

as fontes que brotaram frente a frente
conheceram outros dias, primaveras
corridas pelos prados verdes das nossas ilhas
kiss e kisses enroscados nas águas mornas de um rio
tardes quentes nas frescas ondas de linho.

o receio é demasia, determina. seja.
embora se diga que nada se perde
quando e se há sentido
a intensidade do vulcão jaz adormecida
a tal metade de frio que aplaina o desejo
que se reconstrói sem despedida.

guardam-se as cartas
de palavras indescritas e faz-se a noite
de muitas luas, de manchas escuras
de crateras abertas, ausências adormecidas.

não se lembra o tempo, a distância
desde aquele primeiro instante
em que se fez a concordância
a urgência de lábios géminos, mistos
mãos de veias, desvairadas no alívio.

quando? quando e porquê
a desistência de corpo e chama
que nos torna mais pequenos?


quando? quando
o reconhecimento de que nunca fomos crescidos?
não são as fotografias mas sim os olhos que guardam
a importância das imagens , interiormente
na outra intensidade, máxima e mínima.

as cordas ressoam no círculo rígido, cds
discos de espiral na força de melodias;
os quartos, os quartos fechados de Id
aonde vais? aonde ides baladas
inscritas de sede e sumo de mangas descosidas
em milhares de artérias e labirintos
na velocidade ultrarápida de ruídos?

aonde ides ? até que param no silêncio.
os silêncios de uma cabana feita de musgo e sombra
de paredes brancas imperativas. corridas de tectos
as campânulas. as campânulas. o deserto.
os desertos que se tornam divididos.

um dia as diferenças líquidas são dois mundos
partes sem íman, derretidas, dois rios.
nas margens cortam-se as árvores
e plantam-se eucaliptos;
o esquecimento de um poder de raízes
que trabalham escondidas, invisíveis
secam as grandes planícies.

ecos e ecos nos ouvidos
a insubmissão dos búzios
os ecos reflectidos no Id que divide
mas resiste a lamparina não se extingue

não se sente a fúria.
é certo que o desgaste roeu o alicerce
mas o inferno não é mau
quase um imperfeito paraíso, um intervalo
a necessidade de um repouso inconsciente

não se apaga o profícuo, o bom
há uma lei que contesta a total dissolução
a desordem , a total desordem
a presença de um maior perigo - a anarquia

a descoberta da gravidade, o equilíbrio
que respira, inspira, expira e permanece
de pés no chão como plátanos de troncos largos
cobertos de manchas verdes, verdes claras
e ouriços lá em cima em torturas de vento.

penso e pensas logo somos. não há posse
possessiva, estrangulada e triste.
é preciso compreender a natureza
empresta-nos uma vida.

nada nunca termina quando faz sentido;
recordamos as ruas largas como Santa Catarina
os cafés mais distintos como o Majestic
as praias de pequenos nichos
pequenos mariscos na Boa Nova de Siza.
recorda-se os passeios nas aldeias
e as asas que desejámos por cima das montanhas
as areias, as mãos dadas, as águas
as setas escondidas em canas ocas e sibilantes
das sereias de neptuno, as ondas, as ondas
que subiam e subíamos mantendo níveis
de altos risos pelo risco picotado de adrenalina.

a ciência dos afectos quantifica
e conserva grandes massas de pérolas
dentro de um baú de peles castanhas
lustradas de brilhos como se e sempre vivas;
os poros respiram. a vida existe. nada termina -

será sonho, irrealidade em tudo isto?
apenas ilusão e fuga?
Id, Id
nada termina -

VII Encontro de Poetas em Coimbra