quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Avistei a boca ao entardecer


(fotografia retirada da internet)


Avistei a boca ao entardecer.

A língua não vinha nos mapas,

mas no palato agrupavam-se diversas constelações

e pertencia-lhes a ventura dos meus dedos.

Não havia notícias de outros povos

nem sequer uma mácula de cerejas.

Plantei o primeiro seio

a que chamámos macieira

e abandonei o ventre

à generosidade vegetal.

Nessa noite dormimos por dentro e por fora

do mundo.


Catarina Nunes de Almeida "A Metamorfose das Plantas dos Pés" Deriva, 2008