A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;
a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.
Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"
sábado, 27 de junho de 2009
A folha branca na manhã complexa
A réstea de luz suficiente, o oxigénio necessário
um braço de sol, anjo caído que ilumina
a lisa folha branca disponível
na manhã complexa.
A luz suficiente recolhe numa aurora circular
o olhar fundo de uma noite incompleta.
No íntimo inclinar de sobrancelhas
encontro a ausência no teu mundo
a escondida claridade do teu sorriso
cândido, a estranha sensação diferente
de um toque demasiado leve nos lábios.
Quase o choque imediato de neurónios
na queda imprevista de umas chaves
e o deslize de uma auréola
para o lado de lá da janela.
Uma brisa,
fluxo imperceptível de Venturi,
estabelece a fronteira entre a rua,
a saída no corredor e o lugar fixo
de gravidade presa no meio espaço
de uma sala sem a luz suficiente
o oxigénio necessário depois do bater
da porta de uma despedida geométrica.
A folha branca eleva-se um pouco
na corrente de ar à altura medida
de um prisma de cores cruzadas.
Um código de palavras invisíveis
surge nas sombras de um poema
guardado; incompreendida
tatuagem interna, inscrita
no sabor ainda presente
de uma pele de pétalas
macias.
um braço de sol, anjo caído que ilumina
a lisa folha branca disponível
na manhã complexa.
A luz suficiente recolhe numa aurora circular
o olhar fundo de uma noite incompleta.
No íntimo inclinar de sobrancelhas
encontro a ausência no teu mundo
a escondida claridade do teu sorriso
cândido, a estranha sensação diferente
de um toque demasiado leve nos lábios.
Quase o choque imediato de neurónios
na queda imprevista de umas chaves
e o deslize de uma auréola
para o lado de lá da janela.
Uma brisa,
fluxo imperceptível de Venturi,
estabelece a fronteira entre a rua,
a saída no corredor e o lugar fixo
de gravidade presa no meio espaço
de uma sala sem a luz suficiente
o oxigénio necessário depois do bater
da porta de uma despedida geométrica.
A folha branca eleva-se um pouco
na corrente de ar à altura medida
de um prisma de cores cruzadas.
Um código de palavras invisíveis
surge nas sombras de um poema
guardado; incompreendida
tatuagem interna, inscrita
no sabor ainda presente
de uma pele de pétalas
macias.
Subscrever:
Mensagens (Atom)