sábado, 27 de junho de 2009

A folha branca na manhã complexa

A réstea de luz suficiente, o oxigénio necessário
um braço de sol, anjo caído que ilumina
a lisa folha branca disponível
na manhã complexa.

A luz suficiente recolhe numa aurora circular
o olhar fundo de uma noite incompleta.

No íntimo inclinar de sobrancelhas
encontro a ausência no teu mundo
a escondida claridade do teu sorriso
cândido, a estranha sensação diferente
de um toque demasiado leve nos lábios.

Quase o choque imediato de neurónios
na queda imprevista de umas chaves
e o deslize de uma auréola
para o lado de lá da janela.
Uma brisa,
fluxo imperceptível de Venturi,
estabelece a fronteira entre a rua,
a saída no corredor e o lugar fixo
de gravidade presa no meio espaço
de uma sala sem a luz suficiente
o oxigénio necessário depois do bater
da porta de uma despedida geométrica.

A folha branca eleva-se um pouco
na corrente de ar à altura medida
de um prisma de cores cruzadas.

Um código de palavras invisíveis
surge nas sombras de um poema
guardado; incompreendida
tatuagem interna, inscrita
no sabor ainda presente
de uma pele de pétalas
macias.

1 comentário:

Elza disse...

José, gostei da sua folha branca. Essa folha que nos aparece sem nada, vazia, mais o medo de não conseguir escrever. E depois o prisma de luz, as coisas complexas da vida, o poema que se escreveu, sózinho.