segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Nirintimba pintava - o pobre louco
Nirintimba perdia-se no clima azul-
a parede, uma de quatro, que sempre pintava.
De pupilas dilatadas reescrevia uma história-
minuciosas figuras, traços de paisagens.
Visitado de espírito na noite, acordava
premente de imagens que saíam de dentro
em sonhos de desenhos, linhas, sequências.
O seu mundo que colocava estático
de tigres, leões, elefantes
circunscritas serpentes em ramos altos
hienas primitivas de terapias futuras
rinocerontes vesgos iludidos nas distâncias
leões despenteados em rugidos de navios
girafas de orelha ao lado, ruminantes, calmas;
o seu mundo, ao centro, de uma selva africana.
A cor de um sol quente no país de Nirintimba
povoava um lugar sem ser o nosso e admirava
no sonho das suas diferenças, as pequenas
as pequenas diferenças que desde a manhã
na única das quatro Nirintimba pintava.
Diziam-no louco, o pobre louco, artista
que pena, louco.
Nirintimba só perdia a luz e sentia a sombra
quando algum pincel em teimosia de cerdas
esborratava a precisão de pés descalços
a ingénua infância. persistente nos erros
(quem os diria) perdia-se obsessivo.
E terminava todos os dias, todos os dias
ao fim do dia, cansado e sentado
na cadeira suja, de palha esfiapada.
De madrugada aquele outro pintor deslumbrado
chegava de máquina curiosa, película impressionada;
recolhia de objectiva a parede pintada, a vida breve
de um mural, os cimentos animados de um quadro.
Em todos os cantos, em todos os lados, um ritual
aos círculos no quarto, antes de Nirintimba acordar.
Um sonho louco, uma nova atmosfera, o clima azul
a selva que sabia ao primeiro raio de sol
seria destruída, aniquilada, para que Nirintimba
o homem louco, louco que sonhava, cobrisse
de uma nova camada. pois já não seria esse
o seu sonho na madrugada.
Diziam-no louco. o pobre louco. o artista
que apagava o indício, a mais ínfima memória
e ele sorria, revestia o dia, a bata
recomeçava -
Até quando?
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