quinta-feira, 15 de março de 2012


ao tocar um caminho
falei-lhe ao ouvido
de uma matéria mais quente
para se esquecer da imitação das árvores

à escala de uma estação
o olhar
cada volta que a informação dá no espaço
como um convite para dançar

fomos deixando crescer as árvores
não era urgente falar de árvores
não são urgentes as praças
não sou urgente?

ao toque os caminhos acalmam
e sentam-se nas praças
fingem dormir

nesta praça
a cair de uma estrela
onde a informação se encostou um dia
apaixonada pelos olhos de um bicho
e caminhou

sobre o fumo que une e separa


Man Ray

às vezes pergunto se a minha cabeça não é uma casa pequena e incompleta
com uma chaminé gigante, soltando fumos e fumos de uma fogueira a arder –

e para onde irá o fumo quando a fogueira apagar?
verdadeiramente não sei e pergunto, pergunto e pergunto-me
para onde irá o fumo quando a fogueira apagar?
um dia, um dia impertinente e indeterminado
pode chegar, na forma de um pássaro, assobiando a marcha imprópria
e uma tesoura de silêncio pode cortar a continuidade -

mas não é suposto o fumo parar –

estou preocupado com a origem e o fim. o fumo.

a fogueira arde intensamente
e interroga-me dos lugares que não conheço
das nuvens e do universo
da súbita afirmação e do perigo da subtracção
a perda de nitidez, o desvanecimento do fumo como corpo
sem prejudicar a fotossíntese
porque é um fumo de espírito, de agricultor;
plantas certas ou aromáticas tornadas imortais; fotografias de tempo
naquele fumo que sai e se espalha pelo ar
como uma alma reapreendida, intersubjectiva, diferente, seminal
de uma consistência renovada de outras almas que se encontram e se misturam
como alquimia, uma nova obra no meio das mãos de ventos originais
a nova forma, reinventando o tempo
uma nova aura
que se estende para sempre -

mesmo quando as outra almas se separam
sem a possibilidade de um novo olhar –


josé ferreira 14 de Março 2012