terça-feira, 10 de março de 2009
Poesia de Nuno Júdice/jardins de Monet
Passeio
Um jardim tem avenidas, áleas, alamedas, buxos
e canteiros. Por aí passam as águas das grandes chuvas
de setembro. Num jardim também há bancos, fontes,
lagos, estátuas, grutas, muros e labirintos. O vento
anda por aí, sobre as águas e entre
os interstícios. E há ainda árvores, arbustos, flores,
folhas e troncos caídos. O dia e a noite confundem-se,
por vezes, nalgumas das suas clareiras. E há também
o teu corpo, num jardim. Abraço-o, apesar das águas
e dos ventos, sob o dia e a noite das grandes
folhagens adormecidas. Por vezes, encosto o teu corpo
contra o tronco do cipreste; de outras vezes, deito-o
sobre a relva que o inverno fortaleceu. Gosto
desse corpo de terra e de raízes; mas vejo-o também
à transparência do pólen e das sementes brancas da
primavera. Passeio assim no jardim do teu
corpo: sento-me nos seus bancos; navego no seu lago;
colho as suas pétalas mais húmidas. Nunca sei
se é dia ou se é noite neste jardim; nem se a chuva
cai ou o vento sopra. O que eu sei é que todos os
canteiros vão dar às flores que brotam da tua voz; e
que no lago do teu sorriso navega este barco de papel.
Nuno Júdice
Cartografia de Emoções - Publicações D. Quixote
Esmeralda a gata siamesa
Tanto queima o astro dourado
no manípulo da porta azul
sólida madeira exótica.
Por dentro duas janelas pequenas
de vidro fosco atrás do gradeado
uma campainha de alavanca
som de Madalenas.
Aguardo
no meio de buzinas e ar pesado
por onde passam
os brilhos "lipstick" da modernidade
cor de maracujá
face pó de arroz a pinta preta
cabelos em golpes rubi
verde junco estranho;
do lado de cá
os clichés vários da cidade.
Quando se entra há surpresa
nos tectos altos do passado;
jarros na jarra de um metro
solitário vidro majestático
o lustre de cristal.
Cera acesa em três velas
cor de rosa
no móvel polido vinhático.
De súbito o rangido a desfilada
na ampla estrada da claraboia
projetada de vidros multicolores.
Na ganga coçada na blusa branca
és a nota dissonante - a pérola.
Ouço passos lentos apoios de bengala
vejo um rosto de rugas em cima
debruçado sobre a escada.
Coras um pouco olhas para trás
mesmmo assim soltas os lábios
nos meus olhos de estorninho
no meu ar tão asssustado.
Dizes que suba
à salinha de costura
onde dorme a Esmeralda:
a gata siamesa e a ninhada
(oito linhas remeladas)
todos bem e de saúde
graças a avó e neta
e à Maria Antonieta - a empregada
no parto às três da manhã
segunda-feira passada.
no manípulo da porta azul
sólida madeira exótica.
Por dentro duas janelas pequenas
de vidro fosco atrás do gradeado
uma campainha de alavanca
som de Madalenas.
Aguardo
no meio de buzinas e ar pesado
por onde passam
os brilhos "lipstick" da modernidade
cor de maracujá
face pó de arroz a pinta preta
cabelos em golpes rubi
verde junco estranho;
do lado de cá
os clichés vários da cidade.
Quando se entra há surpresa
nos tectos altos do passado;
jarros na jarra de um metro
solitário vidro majestático
o lustre de cristal.
Cera acesa em três velas
cor de rosa
no móvel polido vinhático.
De súbito o rangido a desfilada
na ampla estrada da claraboia
projetada de vidros multicolores.
Na ganga coçada na blusa branca
és a nota dissonante - a pérola.
Ouço passos lentos apoios de bengala
vejo um rosto de rugas em cima
debruçado sobre a escada.
Coras um pouco olhas para trás
mesmmo assim soltas os lábios
nos meus olhos de estorninho
no meu ar tão asssustado.
Dizes que suba
à salinha de costura
onde dorme a Esmeralda:
a gata siamesa e a ninhada
(oito linhas remeladas)
todos bem e de saúde
graças a avó e neta
e à Maria Antonieta - a empregada
no parto às três da manhã
segunda-feira passada.
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