sexta-feira, 9 de julho de 2010

fotografias


fotografia retirada da internet


retrato real de uma cidade matinal
uma fábrica de molduras de vão de escada
alguns minutos de intervalo.

passa um gato pardo de orelhas deitadas
esconde-se rápido por debaixo do Maseratti.

dez operárias de avental branco e ar de enfado.

uma fuma trava e lança o fumo como um traço
enrolado em nicotina de marca espanhola
diz para a colega: tem força é mais barato.

uma treina os dedos sobre a estrela do carro
diz que se fosse dela saía e ía à praia
ver o mar sentir a areia.

sete caladas em contas de supermercado
nos filhos sózinhos em casa
na ida para casa dos avós que recusaram
de olhos pregados nos virtuais teclados
cheios de erros nas palavras.

a última sentada na penúltima escada
de um prédio de cinco andares.
mármore de Angola de boa qualidade
negro como o cabelo que pousava
no avental branco e a mão num copo grande
iogurte sabor de manga.
rodava a colher como se fosse um volante
liquidificava e tornava fluido
engolia no prazer e esticava a língua
lenta e presa na leitura da revista.

explodiu em voz de soprano causou pânico
o gato fugiu como um lince sobre o muro
escondeu-se num jardim.
alguém tropeça na esquina do passeio
caem os óculos
as letras ficaram mais pequenas.

parecia falta de futebol americano
- já viram já viram aqui na Maria -
juntaram-se como se tivessem ganho a lotaria
em transe em transe de ritual religioso

e riram riram de uma alegria espontânea.

esqueceram o resto-

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