terça-feira, 26 de janeiro de 2010

atmosfera


Cartier Bresson "Brie" 1968


por hábito colocava sinais nas folhas dos livros
poderia ser aquele bilhete de um cinema francês
com muitos diálogos e declarações de alma
registado no w de uma fila, no ímpar
de um número, na cor cinza de um timbre;
um registo de futuras memórias, as duas
a página e um filme.

dizia:
as palavras dos livros têm dedos firmes
que nos chamam, têm a voz que acorda
que nos prende e agarra a que chamamos nossa
e o pressentimento de que quem escreve
sabia da nossa atmosfera, do nosso mundo;
se gostamos dos passeios na penumbra
ou das cores luminosas de uma praia;
e sabe a côr, e sabe a hora, a hora muda
a hora exacta da leitura.

dizia:
as palavras dos livros abraçam
como naquele romance de outra época
um êxtase feliz de Vladimir e Zinaida
por debaixo de um xaile ou a dobar malha
e o encontro de um rosto, e um outro rosto
e o decoro vestido de rubro a despertar o sonho.

1 comentário:

Joana Espain disse...

E às vezes passam a câmara de mão em mão em testemunho. Lá segue a memória entre a página e o filme. Sempre o abraço em (meta) mas às vezes, como aqueles fotógrafos de antiga(mente) e panos pretos, com xailes que escondem a Grande Ocular.