quarta-feira, 15 de junho de 2011

Reflexão à chuva

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Foi de chuva intensa esta manhã, eu sei,
E a noite de caudalosas lágrimas.
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Não sei que te diga. Tu sabes, a chuva
Aborrece e depura, apesar da lama a correr
Pelas ruas [é verdade, as sarjetas entopem,
Não são limpas – o verão distrai quem é já
Propenso à distracção e à monotonia]
Enlameando os degraus das casas e as caves.
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Às vezes, nutre a chuva, sobretudo
Se surpreende as pessoas que a não
Esperavam, distraídas, e que correm
Às lojas chinesas que pululam na
Cidade como os cogumelos nas terras
Húmidas e quentes, e compram baratos
Guarda-chuvas de qualidade duvidosa.
A lama é também aluvião, fertiliza a terra.
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Queixas-te muito de que a chuva incomoda.
E as lágrimas desassossegam-me ainda mais,
Brotam do magoado coração como a elegia,
Um coração que pensa somente em remoinho,
Sempre a mesma ideia, sempre a mesma força
Centrípeta confundindo a lucidez do espírito.
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Melhor teria sido ir para a rua festejar
Como as crianças chapinando nas poças
E molhando os sapatos e as meias, rindo –
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[Vejo-me no espelho de uma poça a brincar,
Sapatos encharcados até aos pés, e as calças
Molhadas nas bainhas, tudo uma emoção,
E felicidade por esses momentos de alegria.
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Sei bem o que custa assim a liberdade,
A minha mãe vem lá de mãos atrás das costas –
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E tu sorriste ao sol do meu sorriso –
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2011-06-04
José Almeida da Silva
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1 comentário:

Elza disse...

As lágrimas que desassossegam ainda mais do que a chuva incomoda, melhor teria sido ir para a rua festejar como as crianças. Muito bonita esta imagem, há aqui uma dor escondida, e a imagem da mãe no final arranca apesar disso um sorriso.